IAP e BHRRC realizam webinário sobre violações de direitos humanos

IAP e BHRRC realizam webinário sobre violações de direitos humanos & monitoramento de empresas e financiadores de desenvolvimento

Aos 31 de janeiro de 2018, a International Accountability Project (IAP) e o Centro de Informação sobre Empresas & Direitos Humanos (BHRRC) realizaram um webinário sobre suas respectivas bases de dados e maneiras como outras organizações da sociedade civil podem trabalhá-las.

Alexandre Andrade Sampaio representou a IAP e discorreu sobre o Sistema de Alerta Prévia (SAP) da organização, que é co-administrado com a organização Center for International Environmental Law (CIEL).

Explicou-se que o SAP é um sistema de monitoramento de projetos e políticas de grandes financiadores de desenvolvimento que atuam ao redor do globo — como o Banco Mundial e o Banco Interamericano. Com ele, é possível trabalhar dados para informar e assessorar comunidades potencialmente afetadas por planos dessas instituições, assim como realizar análises temáticas e de projetos específicos.

Gráfico extraído do SAP pela IAP sobre informações disponibilizadas pelo IDB-Invest

Um exemplo de análise temática demonstrada durante o webinário foi a aquela que resultou na confecção de uma campanha requisitando que instituições de desenvolvimento reconhecessem o dia internacional do direito a saber. A campanha resultou de uma análise de dados advindos do SAP que demonstram a qualidade e quantidade de informação disponibilizada pelo braço privado do Banco Interamericano — o IDB Invest. Outra análise apresentada foi a de tendências em investimentos hidroelétricos, realizada através do SAP em 2016.

Também discorreu-se sobre como os dados disponibilizados pelo SAP podem ser utilizados para alertar comunidades que podem possivelmente ter seus direitos ambientais e humanos afetados por projetos e políticas advindas das instituições monitoradas. Analisou-se brevemente o trabalho feito junto a comunidades afetadas pelo projeto da represa Hidroituango na Colômbia, financiado pelo Banco Interamericano. Tal trabalho resultou recentemente em uma reclamação feita ao mecanismo interno de reclamação do banco, o MICI. Também foi analisado o trabalho feito com comunidades afetadas pelo projeto de Gás Natural Liquefeito no Panamá, financiado pela braço privado do Banco Mundial.

Infográfico feito através de trabalho com comunidades no Panamá

Por fim, as possibilidades de parceria com o SAP foram demonstradas. As organizações presentes foram convidadas a receber as listas de projetos monitorados que são atualizadas regularmente, assim como a ajudar a equipe do SAP no contato com comunidades potencialmente afetadas por esses projetos e no assessoramento das eventuais demandas dessas comunidades.

Júlia Mello Neiva, do BHRRC, apresentou como o Centro trabalha e como a sociedade civil pode usar as informações que a organização produz sobre violações de direitos humanos perpetradas por empresas para fortalecer suas estratégias, denúncias e até mesmo litígio. Júlia falou de como o Centro surgiu há mais de 15 anos no contexto de globalização e necessidade de se discutir o crescente poder econômico e político de empresas transnacionais e como o Estado deixou de ser o principal violador de direitos humanos. Em tal contexto, era preciso entender o papel das empresas nas violações de direitos humanos e discutir como responsabilizá-las por tais violações dentro do sistema de proteção internacional dos direitos humanos. O Centro surge então como catalisador de informações sobre o tema acreditando que por meio da disseminação e amplificação da voz dos grupos vulneráveis, muitas vezes vítimas de tais violações se poderia contribuir para prevenir violações, informar melhor empresas e investidores, governos, agências internacionais como a ONU, dentre outros atores.

 

Corporate Human Rights Benchmark do BHRRC

Júlia ressaltou que o Centro é uma ONG independente, com sede na Inglaterra e em Nova Iorque, e representantes e pesquisadores/as ao redor do mundo. É independente de qualquer governo, religião ou de interesse político e econômico. Ressaltou que não aceita doações de empresas, fundações de empresa ou de altos executivos de corporações, e que referências para atuação são as normas internacionais de direitos humanos. Lembrou ainda que a organização tem como objetivo dar voz a grupos atingidos por violações de direitos humanos perpetradas por empresas e, para tanto, acompanha a atuação de mais de 7000 mil empresas no mundo. Tem um boletim gratuito que traz notícias e casos e é publicado semanalmente em várias línguas. Uma das estratégias que o Centro adotou para ampliar o acesso à informação sobre o tema é buscar e divulgar as respostas das empresas sobre alegações de violações e abusos de direitos humanos. Essas respostas são divulgadas nos boletins semanais, que se tornaram importante referência para vítimas e também empresas saberem o que está ocorrendo no mundo. É um importante instrumento de pressão para mudanças. Além disso, produz índices corporativos (como o Corporate Human Rights Benchmark e KnowtheChain, sobre trabalho escravo em várias cadeias produtivas) em que políticas e ações das empresas em relação a direitos humanos são comparadas e ranqueadas. Júlia mostrou o banco de dados sobre as empresas, mostrou como fazer pesquisas, mostrou também os diversos bancos de dados produzidos pelo Centro. Mostrou ainda algumas plataformas como a destinada a comunidades e grupos de atingidos, que dispõe de materiais e dicas de como registrar denúncias e evidências de violações, como monitorar empresas, como influenciá-las, dentre outros aspectos. Todas essas informações e ações são realizadas com o intuito de dar a voz a grupos e pessoas vulneráveis e vítimas de violações, destacando os esforços e as lutas dos defensores/as de direitos humanos, e buscando possibilidades de responsabilizar as empresas por violações e disseminar ampla e globalmente informações sobre tais violações.

 

Know the Chain do BHRRC

IAP e BHRRC agora planejam realizar outros webinars em inglês e espanhol para detalhar sua maneira de trabalho e possibilidades de cooperação com organizações da região. A gravação do webinário em português está disponível para acesso mas é possível a utilização de legendas em outras línguas geradas pelo sistema do youtube. As organizações que tenham interesse em receber informações e estabelecer parcerias com IAP e BHRRC são convidadas a enviar e-mail para alex [at] accountabilityproject.org (IAP) e neiva [at] business-humanrights.org (BHRRC).